Cuidadores, como está a vossa saúde mental?

Os cuidadores constituem uma força de trabalho invisível que fornece um apoio vital a um número cada vez mais crescente de pessoas que sofre de complicações físicas, psicológicas e neurológicas. Na maior parte dos casos, não remunerados, os cuidadores tendem a ser membros da família que cuidam dos seus entes queridos por amor ou porque não conseguem contratar alguém para assumir este papel desafiador.  

Cuidar pode ser uma experiência pessoal muito gratificante, mas não há cuidador que não se tenha sentido sobrecarregado em alguma altura pelas exigências constantes. Dado o seu envolvimento para atender às necessidades dos outros, a maioria dos cuidadores tende a negligenciar as suas próprias necessidades e tal pode ter um impacto negativo na sua saúde a longo prazo.  A prestação de cuidados requer um compromisso e pode ser fisicamente exaustivo e mentalmente desgastante. Tendo isso em consideração, os cuidadores correm um risco maior de sofrer de stress e esgotamento, além de pior saúde mental e física – fatores que podem comprometer a sua própria capacidade de cuidar adequadamente do outro. 

Todos os trabalhos têm os seus desafios e é natural que os cuidadores experienciam um certo nível de frustração e emoções negativas de tempos a tempos. Se tal não for controlado ou manter-se inalterado, estes sentimentos podem tornar-se uma bola neve, resultando em raiva, solidão, arrependimento e tristeza. Por isso, o bem-estar do cuidador não pode ser subestimado. Quando prestamos cuidados, devemos primeiro cuidar da nossa saúde física e mental. Colocar a máscara de oxigénio primeiro e depois nos outros, não esquecer! É verdade que não podemos estalar os dedos e ter uma rotina de autocuidado impecável e intocável. Por exemplo, sentimentos de culpa podem surgir quando dedicamos tempo a nós próprios. É preciso tempo, ajuda, esforço e dedicação. 

Deixamos algumas estratégias que poderão ser úteis não apenas em situações de crise e de autoquestionamento, mas todos os dias: 

1. Controlar o Stress 

Como cuidador é o pilar da pessoa cuidada. Pode ser stressante e avassalador e nem sempre é fácil manter a postura. É natural passar por medos, dúvidas, desespero e ansiedade. É natural chorar. Quando sentir que o balão está prestes a rebentar, reserve um tempo para si mesmo. O que pode fazer? 1) praticar uma respiração lenta e controlada pode ajudar a regressar ao momento presente e baixar os níveis de stress; 2) programar uma hora especifica para fazer exercícios físicos que gosta, como caminhar 30 minutos por dia, fazer jardinagem ou tratar do quintal; 3) conversar com alguém para partilhar os pensamentos e sentimentos. 

Mantendo a calma, terá um melhor controlo sobre a situação. Será capaz de pensar com mais clareza e a pessoa que é cuidada também beneficia.  

2. Pedir e aceitar ajuda 

Saber pedir ajuda é mais complexo do que parece, entretanto não tenha medo de o fazer. Qualquer ajuda que possa obter é necessária e muitas pessoas estão dispostas a apoiar. Quer se trate de ajuda direta no cuidado à pessoa ou no apoio dirigido a si próprio por meio de realização de tarefas, ambos têm um enorme valor. A ajuda pode vir de familiares, amigos, profissionais, novas tecnologias e serviços da comunidade. Faça uma distribuição de responsabilidades, mesmo que sejam simples. Organize uma lista mental de tarefas que outras pessoas possam ajudar e comunique claramente as suas necessidades. A lista pode incluir compras, idas a médico ou levar a pessoa cuidada numa caminhada ou passeio exterior durante 15 minutos algumas vezes por semana. Organizar uma reunião familiar para discutir que tarefas podem ser divididas, acordar um cronograma de cuidados ou dividir os custos de contratação de um prestador de cuidados também poderá ajudar. Ao partilhar as tarefas com outras pessoas terá a oportunidade de socializar ou ter algum tempo livre para relaxar.  

3. Manter as ligações sociais  

Embora possa ser um desafio ver os amigos e familiares enquanto presta cuidados, é importante manter os contactos sociais com regularidade de forma evitar o isolamento e a solidão. Ligar para um amigo durante uma caminhada. Agendar o jantar uma vez por semana com familiares. Fazer videochamada com os seus netos às terças-feiras. Além disso, considerar procurar ajuda por meio de grupos e serviços de apoio a cuidadores locais ou on-line. As pessoas que passaram ou estão a passar por situações semelhantes podem lhe dar bons conselhos e conforto, e irá perceber que não está sozinho.  

4. Priorizar uma alimentação saudável e uma boa qualidade de sono 

É fácil esquecer as próprias refeições e necessidades ao tentar ajudar o outro. Manter um sono e uma nutrição adequados são chave na saúde mental e física. Alguns cuidadores têm dificuldade em estabelecer horários e momentos de descanso pessoais, como horas de sono adequadas.  Como parte crucial do seu autocuidado, é imperativo que se permita a pausas e encontre tempo para descansar. Um sono de boa qualidade e de pelo menos 7 horas por noite pode contribuir para a saúde e bem-estar. Por sua vez, comer bem e de forma equilibrada lhe dará força e energia para desempenhar as suas funções como cuidador. A falta de refeições pode levar a irritabilidade e fadiga, pelo que é importante comer regularmente refeições programadas ao longo do dia. 

5. Organizar a rotina diária 

As tarefas de cuidado exigem muito tempo e esforço. Cuidar traz novos desafios todos os dias, pelo que é necessário estar preparado para mudar e ajustar rotinas com frequência. Ao desenvolver um plano de cuidados pode ajudá-lo a gerir o tempo adequadamente, atender às necessidades da pessoa cuidada e tirar um tempo para si. Considere também utilizar novas tecnologias e ferramentas digitais para ajudar na organização do dia-a-dia. Existem muitas soluções criadas especialmente para cuidadores e gestão de saúde e medicação. Implementá-las facilitará as suas tarefas como cuidador e será também benéfico para a pessoa cuidada. 

Teresa Castanho

Psicóloga e Investigadora

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