No dia 4 de março, assinala-se o Dia Mundial da Obesidade, uma data que destaca a obesidade como um problema de saúde pública. Este ano, curiosamente, coincide com o Carnaval, levando-nos a refletir sobre as “máscaras” que a sociedade impõe à obesidade. O estigma social muitas vezes mascara a realidade desta condição, dificultando o diagnóstico e o acesso a tratamentos adequados. Para mudar este cenário, é essencial promover a educação, a empatia e a criação de políticas de saúde que garantam um acompanhamento eficaz e sem discriminação.
Em janeiro deste ano, um grupo de especialistas publicou na The Lancet Diabetes & Endocrinology novas diretrizes para a definição e o diagnóstico da obesidade. Este consenso veio reforçar que a obesidade não é apenas uma consequência de escolhas individuais, mas sim uma doença crónica multifatorial. Mais do que excesso de peso, envolve fatores genéticos, metabólicos, ambientais, emocionais, e comportamentais que afetam a saúde e o bem-esta. Por isso, o Índice de Massa Corporal (IMC), usado há décadas como critério de diagnóstico, apresenta limitações importantes, pois não diferencia entre massa gorda e massa muscular nem considera fatores individuais como etnia e distribuição de gordura. A nova proposta sugere critérios mais abrangentes, analisando a composição corporal e a localização da gordura. Introduzem-se os conceitos de “obesidade clínica”, quando o excesso de gordura já compromete a saúde, e “obesidade pré-clínica”, quando há risco aumentado, mas sem manifestações evidentes de doença.
Estas novas diretrizes destacam a necessidade de um tratamento personalizado e multidisciplinar para a obesidade. Isso significa envolver uma equipa composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e fisiologistas do exercício, garantindo apoio abrangente, mudanças no estilo de vida, intervenção nutricional e, quando necessário, tratamentos farmacológicos ou cirúrgicos. Além disso, o plano terapêutico deve ser ajustado às necessidades de cada pessoa, considerando fatores clínicos, socioeconómicos e psicológicos. A adoção destas estratégias eficazes e baseadas em evidência científica não só melhora a qualidade de vida do indivíduo, como também reduz o impacto da obesidade na saúde global.
No entanto, a solução para a obesidade deve passar também por todos nós enquanto sociedade. É urgente reforçar políticas públicas eficazes, promovendo ambientes mais saudáveis, com acesso facilitado a alimentos nutritivos e espaços para a prática de atividade física. E, é igualmente fundamental, combater o estigma associado à obesidade, garantindo uma sociedade inclusiva e livre de discriminação.
Sílvia Félix
Psicóloga