O Dia Internacional do Enfermeiro, celebrado a 12 de maio, representa mais do que uma efeméride simbólica: é uma ocasião para refletir sobre a importância de cuidar de quem cuida. Num tempo em que os enfermeiros enfrentam níveis preocupantes de desgaste físico e psicológico, este dia relembra-nos que a valorização da profissão é essencial não só para os profissionais, mas também para a qualidade dos cuidados prestados à população.
A escolha desta data homenageia Florence Nightingale, nascida a 12 de maio de 1820, cuja visão revolucionou a prática da enfermagem. O seu legado de rigor científico, dedicação ao cuidado humano e defesa de melhores condições sanitárias inspira, ainda hoje, os profissionais que atuam num sistema de saúde cada vez mais complexo. Celebrar este dia é reconhecer que a enfermagem é uma profissão autónoma, essencial e insubstituível no cuidado à pessoa ao longo do ciclo de vida.
A pandemia COVID-19, evidenciou de forma incontornável o papel vital dos enfermeiros e a pressão contínua a que estão sujeitos. Segundo dados do Conselho Internacional de Enfermeiros, mais de 70% dos profissionais de enfermagem relataram sintomas de exaustão ou burnout durante o pico da pandemia. Em Portugal, um estudo promovido pela Ordem dos Enfermeiros revelou que cerca de 60% dos enfermeiros consideraram abandonar a profissão nos últimos anos, citando a sobrecarga de trabalho e a falta de reconhecimento como principais motivos. As longas jornadas, a exigência emocional e a responsabilidade constante deixaram marcas profundas, mas também revelaram a resiliência e a entrega destes profissionais. Esta realidade reforça a necessidade de promover uma cultura de apoio, respeito e proteção para quem está na linha da frente do cuidar.
Assim, o Dia Internacional do Enfermeiro deve ser encarado como uma oportunidade de compromisso. Para além das justas homenagens, importa reconhecer que os enfermeiros também precisam de ser cuidados. Garantir o seu bem-estar passa por criar condições de trabalho seguras, equilibradas e motivadoras. “Cuidar de quem cuida” deve ser mais do que um lema: deve traduzir-se em ações que promovam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o acesso a apoio emocional e a valorização contínua das suas competências.
Quando os enfermeiros se sentem reconhecidos, ouvidos e apoiados, os resultados refletem-se diretamente nos cuidados prestados. Cuidados mais humanos, atentos, eficazes e seguros. Estudos internacionais, como o relatório da Organização Mundial da Saúde (“State of the World’s Nursing 2020”) e investigações publicadas no The Lancet e no Journal of Nursing Management, indicam que instituições que promovem boas condições de trabalho para os profissionais de enfermagem registam menores taxas de erro clínico, maior satisfação dos utentes e melhores resultados em saúde, incluindo menores taxas de mortalidade hospitalar e internamentos evitáveis. Este reconhecimento fortalece o propósito profissional, reforça a coesão das equipas e promove um ambiente centrado na pessoa, mais sensível e eficiente.
É neste espírito que devemos viver esta data: como uma celebração do contributo inestimável da enfermagem para a saúde pública, e como um apelo claro a medidas concretas que assegurem o seu bem-estar e dignidade. Melhorar as condições de quem cuida é o caminho mais direto para melhorar os cuidados de saúde de todos.
Cláudia Almeida
Enfermeira